domingo, 14 de novembro de 2010

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, por Vanessa Coutinho
(Texto publicado originalmente no Jornal Ganesha - 195)

   Muitas vezes romantizada pelo teatro, literatura e artes em geral, especialmente nas obras masculinas, a violência na relação entre homem e mulher acaba por ser encarada como algo que, embora desagradável, pode ser aceitável, e até faz parte do jogo sexual entre os parceiros.
   O que é visto, através de relatos em consultórios e delegacias, nas poucas vezes em que se fazem ouvir, e pela veiculação de notícias pela imprensa é que a violência e a dominação que o homem julga possuir sobre a mulher não raro resultam em homicídio.
   Há alguns anos surgiram as delegacias especializadas no atendimento à mulher, e temos também a Lei Maria da Penha, conquistas que são importantes, mas ainda não "resolveram" o problema, porque ele não é só legal. É também social e psicológico.
   A parceria sexual não é vista como uma relação igualitária. Existe um dominador e um dominado e, entre os direitos do dominador, está o de castigar o dominado pelos motivos que considerar pertinentes. Ou mesmo por motivo algum.
   Neste contexto de violência doméstica, é comum que à própria violência sejam somados o descrédito e a inversão do papel vítima-agressor, o que acaba por alimentar a idéia da legitimidade do ato.
   Este pensamento não está restrito às camadas mais culturalmente carentes, embora pareça que a violência recorrente seja mais rara nas relações em que a mulher é cônscia de seus direitos e economicamente independente.

                                                         

                                                        
   Em alguns casos, parece se misturar à vergonha uma negação de que aquela pessoa, tão próxima, possa ser um agressor. A vítima se defende psiquicamente da forte carga de decepção e confusão, e até da culpa, ora por acreditar que possa ter provocado a situação, ora por perceber-se violentada por alguém que escolheu para seu parceiro.
   O apoio psicoterapêutico é então muito importante. Para algumas mulheres, romper o ciclo vicioso de uma parceria violenta significa romper com diversas coisas, necessitando, inclusive, afastar-se de sua casa, de seus pertences, e se manter em abrigos com endereços sigilosos. E estas mulheres, muitas vezes, contam apenas com o apoio terapêutico para conseguirem levar até o fim a decisão que tomaram.
   Naturalmente, nem todas as mulheres percebem o grau de adoecimento contido em uma relação baseada em agressão e submissão. Mas existem aquelas que desejam romper e buscam ajuda, apesar do medo, da vergonha e da incerteza quanto às consequencias de seus atos. Ao primeiro grupo, resta a tentativa, por parte de grupos que militam pelas causas das minorias, de conscientização. O segundo grupo, o das mulheres que reuniram afetos suficientes para uma tomada de decisão, mesmo encontrando-se confusas e inseguras quanto às suas escolhas e seu futuro, com a auto-estima severamente abalada, sem dúvida se beneficiará de uma vivência psicoterapêutica. Esta vivência será mais uma possibilidade de auxiliar estas mulheres na tarefa de voltar o olhar para si mesmas, e sedimentar a escolha pela mudança do papel que desejam desempenhar nas relações afetivas. E na vida.

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