domingo, 21 de novembro de 2010

POR QUÊ (NÃO) FAZER TERAPIA? Por Vanessa Coutinho
(Texto publicado originalmente no Jornal Ganesha - 179)

Em seu livro "Terapeutas do deserto", Jean-Yves Leloup nos fala que "não estamos aqui para recolher ovelhas perdidas, porque todos estamos perdidos e todos nós procuramos um caminho.Não estamos aqui para dar respostas, mas para convidá-los a um caminho. Convidá-los a uma transformação, a uma construção".
Inúmeras vezes já ouvi o equivocado e preconceituoso comentário de que alguém, apesar de suas intensas dores existenciais, que transcendem o físico (mas nem por isso deixam de atingi-lo), não buscará psicólogos, analistas, terapeutas e afins, porque não aceitará que outro lhe diga o que fazer. O bom terapeuta, em momento algum se arvora em determinar o que deve fazer e como deve agir o sujeito que se encontra a sua frente.Isso é mito, falta de conhecimento.
O terapeuta ajudará seu cliente a defrontar-se com sua verdade, e esta verdade diz respeito aos aspectos positivos e negativos, aos agradáveis e aos dolorosos. Enfrentar, conhecer, aceitar as partes nossas que rejeitamos,e que compõe o que Jung  chamava de "sombra", será uma importante passo para a descoberta de potenciais a desenvolver, tão bem escondidos no fundo de "armários" que nem sabemos que estão lá.
Quase todos já passaram, em especial os que se aproximam da maturidade, por um momento em que descobrem que pautavam suas vidas, ou parte delas, em valores e conceitos que não eram verdadeiramente seus, e sim aprendidos e apreendidos, herdados de pais, avós, parentes, professores, grupos sociais, enfim, pessoas que, de alguma forma, foram ou são referências afetivas importantes. Vários destes valores são fundamentais, compõe nosso código moral e ético e pontuam nossa vida de maneira coerente. Mas em alguns momentos, podemos descobrir que trilhamos caminhos que não desejávamos e "escolhemos" ou mantivemos relações pessoais e profissionais que não nos agradam, porque, assim, à semelhança da criança que fomos e que se mantém em alguma parte de nossa vida psíquica, seremos abençoados pela aprovação de nossos pares.
Costumo dizer que quando optamos em não falar "não" para os outros, e tomamos atitudes que na verdade não desejamos tomar, continuamos a falar "não", só que para nós mesmos. Que façamos isso vez ou outra, dada a força das circunstâncias, tudo bem. Mas se fizermos desta exceção uma regra, e formos acumulando "nãos" para nós mesmos, mais cedo ou mais tarde nossa saúde cobrará o preço.
Ao final de um processo terapêutico podemos concluir que grande foi a intensidade da mudança, e que o sujeito já não tem a respeito de si mesmo, a mesma imagem que tinha no início. Nada melhor do que a já tão utilizada metáfora da metamorfose: "o que a lagarta chama de morte, o mestre chama de borboleta" (Richard Bach).




     

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