sexta-feira, 27 de maio de 2011

PEQUENOS CONTOS

Por Vanessa Coutinho
O menino queria plantar um pé de alegria, para que sua mãe pudesse, um dia, colher um fruto, mesmo que pequeno. Ele sonhava em poder encontrar algumas sementes e plantá-las. Depois regar e ver crescer a árvore mágica.
O menino sempre via sua mãe tão triste, jamais a vira sorrir. E ele imaginava que talvez fosse o culpado por aquela tristeza pesada que a mulher carregava para onde quer que fosse.
Um dia o menino encontrou por acaso umas sementes de alegria jogadas no chão da rua. Eram poucas, ele sabia que precisaria cuidar com muito afinco para que brotassem. Mesmo assim, valia a pena tentar.
As sementes brotaram numa velha lata de leite condensado, seu tesouro maior. E, para seu espanto, deram frutos rápido, assim que os galhos se estenderam.
Eram, realmente, frutos pequenos, quase do tamanho de uma ervilha. Mas ele colheu todos com mãos cuidadosas e levou-as para que a mãe pudesse provar.
-O que é isso? - ela perguntou
-Não sei. Prova. O gosto é bom.
A mulher botou as frutas na boca mais por preguiça do que por vontade. E, pela primeira vez na vida do menino, ele a viu sorrir. Bem de leve, bem de canto. Mas ela sorriu.
Então, pegou as poucas roupas que tinha, juntou com as do menino, que também não eram muitas. Estendeu a ele a mão áspera e abriu a porta para que, juntos, fossem para longe dali.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

C.G.JUNG

                O MITO: PIGMALIÃO
Por Vanessa Coutinho

          Pigmalião via tantos defeitos nas mulheres que, por causa disso, acabou por viver solitário. Como era exímio escultor, executou uma belíssima estátua de marfim, tão perfeita que parecia uma jovem de carne e osso.Pigmalião chamou-a Galatéia, e por ela apaixonou-se perdidamente. Acariciava-a e dava-lhe presentes, como se fosse uma amante de verdade. Pigmalião vestiu Galatéia, ornou-a com jóias e deitou-a no leito como sua mulher.

          Algum tempo após, o escultor compareceu ao festival dedicado à Vênus, onde cumpriu suas obrigações para com a deusa. Depois, diante do altar, quis rogar para que pudesse, de fato, casar-se com Galatéia, mas constrangeu-se de fazer tal pedido. Vênus compreendeu o desejo que Pigmalião não se atreveu a formular, e fez com que a chama do altar se erguesse por três vezes. Ao chegar a casa, o homem se debruçou sobre a amada para beijar-lhe a boca. Percebeu os lábios quentes. Beijou-a novamente e envolveu-a nos braços. A rigidez do marfim transformara-se em carne macia. Atônito e feliz, com medo de que estivesse enganado, repetiu o gesto por muitas vezes, até certificar-se de que era mesmo um corpo vivo que tinha próximo ao seu. Ele agradeceu à Vênus, e a jovem abriu os olhos, fixando seu amante. A deusa abençoou o casamento de Pigmalião e Galatéia, do qual nasceu Pafos.

                 INTERPRETAÇÃO DO MITO


          Podemos considerar Pigmalião como símbolo do homem que renega veementemente seus conteúdos femininos, sua anima. Assim, Galatéia representa esta anima, enrijecida, sem vida, sem mobilidade. Pigmalião vive solitário, sua vida não está completa, não gera frutos, pois uma parte de seu self é negada, abominada. Sua relação com a anima é negativa. Antes de poder viver satisfatoriamente um casamento real, é preciso que o homem possa se relacionar com sua anima e a mulher com seu animus.

          Ao mesmo tempo que nega o valor das mulheres, Pigmalião intui que necessita de sua porção do feminino para ser uma pessoa mais plena, e começa, a princípio timidamente, a “cortejar” Galatéia, aproximar-se dela, oferecer-lhe presentes, ou seja, relacionar-se com a anima que, cada vez menos desprezada, pode começar a se manifestar positivamente na vida do homem.

          Vênus, divindade que representa de forma muito intensa as qualidades do feminino, promove esse “casamento interno” com a anima, e desta união nasce uma criança, símbolo da plenitude da relação, antes estéril e problemática.

          Agora, Galatéia é uma mulher real, graças à “entrega” de Pigmalião às qualidades e características do feminino, representadas pela deusa. Após vivenciar a importância da relação positiva com sua anima, Pigmalião está apto a um “casamento” real, com uma mulher de carne e osso.

                                                     


segunda-feira, 23 de maio de 2011

PARA O DR. TIJOLINHO, DENTISTA DA ALEGRIA

"Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Fernando Pessoa

PARA LER E PENSAR

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale à pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É ATRAVESSAR DESERTOS FORA DE SI, MAS SER CAPAZ DE ENCONTRAR UM OÁSIS NO RECÔNDITO DA SUA ALMA.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coregem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta."

Fernando Pessoa

Ao ler este texto não pude deixar de fazer uma relação com o processo terapêutico.
Se é possível viver melhor, porquê não tentar? Por quê não se dar uma chance de encontrar um oásis no recôndito da alma?