quinta-feira, 26 de maio de 2011

C.G.JUNG

                O MITO: PIGMALIÃO
Por Vanessa Coutinho

          Pigmalião via tantos defeitos nas mulheres que, por causa disso, acabou por viver solitário. Como era exímio escultor, executou uma belíssima estátua de marfim, tão perfeita que parecia uma jovem de carne e osso.Pigmalião chamou-a Galatéia, e por ela apaixonou-se perdidamente. Acariciava-a e dava-lhe presentes, como se fosse uma amante de verdade. Pigmalião vestiu Galatéia, ornou-a com jóias e deitou-a no leito como sua mulher.

          Algum tempo após, o escultor compareceu ao festival dedicado à Vênus, onde cumpriu suas obrigações para com a deusa. Depois, diante do altar, quis rogar para que pudesse, de fato, casar-se com Galatéia, mas constrangeu-se de fazer tal pedido. Vênus compreendeu o desejo que Pigmalião não se atreveu a formular, e fez com que a chama do altar se erguesse por três vezes. Ao chegar a casa, o homem se debruçou sobre a amada para beijar-lhe a boca. Percebeu os lábios quentes. Beijou-a novamente e envolveu-a nos braços. A rigidez do marfim transformara-se em carne macia. Atônito e feliz, com medo de que estivesse enganado, repetiu o gesto por muitas vezes, até certificar-se de que era mesmo um corpo vivo que tinha próximo ao seu. Ele agradeceu à Vênus, e a jovem abriu os olhos, fixando seu amante. A deusa abençoou o casamento de Pigmalião e Galatéia, do qual nasceu Pafos.

                 INTERPRETAÇÃO DO MITO


          Podemos considerar Pigmalião como símbolo do homem que renega veementemente seus conteúdos femininos, sua anima. Assim, Galatéia representa esta anima, enrijecida, sem vida, sem mobilidade. Pigmalião vive solitário, sua vida não está completa, não gera frutos, pois uma parte de seu self é negada, abominada. Sua relação com a anima é negativa. Antes de poder viver satisfatoriamente um casamento real, é preciso que o homem possa se relacionar com sua anima e a mulher com seu animus.

          Ao mesmo tempo que nega o valor das mulheres, Pigmalião intui que necessita de sua porção do feminino para ser uma pessoa mais plena, e começa, a princípio timidamente, a “cortejar” Galatéia, aproximar-se dela, oferecer-lhe presentes, ou seja, relacionar-se com a anima que, cada vez menos desprezada, pode começar a se manifestar positivamente na vida do homem.

          Vênus, divindade que representa de forma muito intensa as qualidades do feminino, promove esse “casamento interno” com a anima, e desta união nasce uma criança, símbolo da plenitude da relação, antes estéril e problemática.

          Agora, Galatéia é uma mulher real, graças à “entrega” de Pigmalião às qualidades e características do feminino, representadas pela deusa. Após vivenciar a importância da relação positiva com sua anima, Pigmalião está apto a um “casamento” real, com uma mulher de carne e osso.

                                                     


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