sábado, 23 de outubro de 2010

ARTETERAPIA: ALGUMAS PALAVRAS

Por Vanessa Coutinho

(Texto originalmente publicado no livro "Arteterapia com idosos - ensaios e relatos" de Vanessa Coutinho, WAK Editora)

          Arteterapia, em uma definição bem simples, seria a terapia através da arte. Da produção de imagens que, alheias a julgamentos estéticos, funcionarão como mapas simbólicos rumo aos conteúdos inconscientes.

          Tenho razões para crer que a arteterapia pode ser muito eficaz. O ser humano costuma ter um bom domínio da palavra e, sejamos honestos, mentimos muito para nós mesmos. É óbvio que um terapeuta experiente é perfeitamente capaz de uma compreensão bastante abrangente a partir da análise do discurso, em suas associações, trocas, lapsos, esquecimentos. Jamais levantaria a bandeira de que uma forma de trabalhar é a única ou a melhor. Ela é, apenas, uma forma de trabalhar.

          Como dizia C. G. Jung: "só a própria pessoa tem o poder da cura". Partindo dessa afirmação, sustento que a grande função da terapia é a possibilidade de auto-conhecimento. Não o raso, que se abriga no ego, mas o profundo, que pode ser doído em seus primeiros passos, mas oferece o pote de ouro no final. E, por falar em ouro, ouso dizer que a alquimia primordial é aquela pela qual nos transformamos em nós mesmos. E a oportunidade de materializar nossas imagens e personagens internas favorece essa transformação.

          O exercício da criação, seja de imagens, sons,movimentos, e o posterior confronto com o que é criado, são aspectos da arteterapia: "o fazer criativo sempre estará carregado da subjetividade de quem o exerce, e a expressará em plenitude através dos diversos símbolos empregados nas imagens que surjam. Desta forma, através de uma observação mais cuidadosa, possibilitada pela relação terapêutica, as construções e criações reveladas constituem-se em meios de auto-conhecimento que, bem compreendidos, podem auxiliar no desenvolvimento do ser". (COUTINHO, 2005).





          Particularmente, acredito na necessidade de uma mudança na maneira de enxergar a relação terapêutica. É muito comum que ela se paute em conceitos médicos, tais como "tratamento", "paciente", "cura", "doença", etc. Esta visão traz embutida uma dimensão de poder sobre o outro que, se para algumas linhas de condução pode ser instrumento, pode também configurar-se na perpetuação de uma forma inadequada de se lidar com as próprias potencialidades. Ao depositar no terapeuta toda a expectativa do êxito, o sujeito se esvazia da responsabilidade por seu próprio bem-estar e saúde psíquica. Considero mais produtiva a percepção de que os elementos da relação terapêutica são co-participantes. O terapeuta funciona ora como um espelho, ora como um acompanhante que traz nas mãos uma pequena luz, a fim de ajudar o outro a enxergar com mais clareza o "chão" em que pisa. Mas o terapeuta não é o guia da jornada. Quem traça o rumo é o sujeito do processo.

          Assim, munidos de alguns materiais plásticos e de muita sinceridade, desenhar esse "mapa" não apenas pode ser favorável, como costuma ser transformador. Descobrimos que nossos "monstros" têm o aspecto que lhes demos e, afinal, podemos não matá-los,mas, o que é melhor, dialogar com eles e torná-los menos assustadores.

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