quarta-feira, 25 de julho de 2012

"Foi por medo de avião..."

Vanessa Coutinho

   Um grande amigo, colega de ofício, tem uma séria dificuldade quando se trata de viajar de avião. Já chegou a declinar de um convite para ir à Europa, pois era incapaz de se imaginar sobrevoando o oceano em um trajeto de cerca de dez horas.
   Por conta dessa, digamos, dificuldade, nunca aceitou tratar pacientes que sofressem de medo de voar, e costumava encaminhá-los a outros profissionais.
   Em certa ocasião, uma paciente de quem tratava já há tempo revelou algo até então não dito: tinha medo de avião, mesmo em viagens curtas, e costumava sentir-se muito mal e angustiada quando precisava voar. Meu amigo ficou incomodado, buscou supervisão, intensificou sua análise pessoal e, por fim, decidiu que continuaria o processo com a paciente que, até o momento, ia muito bem.

                                                      
 
    Tempos depois, ele me confidenciou que sua paciente havia melhorado sensivelmente no que se referia ao citado medo. "E você?" - perguntei. "Eu acabei de recusar um convite para ir à Argentina... Não dei conta...".
   Em silêncio, sorrimos um para o outro. Eu pensava nos encantos e mistérios desta profissão. Meu amigo foi capaz e competente para minimizar a dificuldade de alguém, embora não tenha conseguido vencer a sua. Lembrei da frase de Jung: "um analista não pode levar alguém além de onde foi em sua própria análise". Outros famosos psicólogos afirmaram coisas semelhantes. Mas o fato é que o medo de voar de meu amigo certamente é diferente do medo de voar de sua paciente. Não existem sintomas iguais em sua essência.
   E eu não conseguia deixar de pensar nos encantos e mistérios desta profissão...

2 comentários:

  1. Muito bacana sua ponderação Vanessa. Esse encantamento do qual fala no final do texto,parece ser lugar comum, entre nós Psis..e mais, acho que só através desse encantamento que nos permite investigar,querer entender, que podemos ír além enquanto terapeutas/analistas ou pacientes/clientes. O sintoma, aquilo que aparece é algo em tese tratável, mas as causas são quase sempre inusitadas e trabalhosas de identificar e tratar. De qualquer modo,é olhando pra eles(os sintomas),se aproximando deles, como seu colega fez, que conseguimos entender um pouco mais. É no contato que podemos vislumbrar alguma luz. bjs, parabéns pelo blog. Carol

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  2. Carol, um beijo! Adorei seu comentário e sua visita. Volte sempre!

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