sábado, 21 de julho de 2012

A doença do preconceito

Vanessa Coutinho

   Estava assistindo, junto com minhas filhas, a uma reportagem de TV que contava a história de uma mulher que tinha quatro filhos, e estava grávida do quinto. A repórter afirmava que a Sra. A. criava suas crianças com enorme dificuldade. Sem perceber, falei: "ora, mas se cria quatro com dificuldade, por que engravidou do quinto?".
   Ao final da matéria, a repórter nos revela que, um mês após aquela gravação, A. entrou, prematuramente em trabalho de parto. Foi rejeitada em duas maternidades por falta de estrutura, médico, leito, ou fosse lá o absurdo que fosse. Na terceira, deu à luz sua filhinha que, por ser prematura, precisava de cuidados especiais, que a clínica não pôde oferecer. Resumindo, a criança faleceu.
   Enquanto eu, consternada, refletia sobre a situação da saúde pública em nosso país, Luísa, de seis anos, falou: "ainda bem que ela agora só vai ficar com quatro filhos..."
   Percebi que ela quis apenas fazer eco às minhas palavras, ao meu comentário que, no fundo, havia sido tristemente preconceituoso. O que me permite afirmar que alguém deva ter um ou dois ou cinco filhos? Claro que sou favorável ao planejamento familiar, mas, quem sou eu para julgar se A. viveria melhor ou pior com quatro filhos ao invés de cinco?
   Imediatamente comecei a conversar com Luísa, explicando que as coisas não eram tão simples quanto mamãe havia dito, e que era muito ruim que aquele bebê não tivesse tido a chance de sobreviver. Percebi o quanto nós, pais, temos a obrigação de nos responsabilizar por passar preceitos éticos aos pequenos. E o quanto nossos atos, por mais sutis que sejam, são sempre tijolos fundamentais na formação de seu caráter.

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