quarta-feira, 4 de julho de 2012

Cabeça de Criança

Vanessa Coutinho

   Minha filha Sofia tem 2 anos e 7 meses. Está na fase de "A Bela e a Fera", o que quer dizer que assiste ao DVD inúmeras vezes por dia, chegando a decorar as canções e até mesmo algumas falas.
   Em um determinado dia, me disse que ela era a Bela. Até aí, tudo bem. Mas, na cena em que Bela, ao se ver sozinha no castelo da Fera, se joga sobre uma cama soluçando, Sofia virou para mim com os olhos cheios de lágrimas:
   - Mamãe, eu chorei! Eu chorei!
   Na hora, meu impulso foi dizer: "o que é isso minha filha!? Não é você, é só um desenho na televisão..."
   Percebi que dizer isso seria falar com o adulto que Sofia ainda não tem dentro de si. Então, busquei ajuda da criança que sobrevive em mim, estendi os braços para aquela pequena criatura magoada e disse apenas:
   - Está tudo bem, meu amor. Mamãe está aqui com você... Eu vou ficar aqui e te ajudar...
   Abraçada em mim, a cabeça em meu peito, minha filha foi se tranquilizando. Dentro de seu mundo de fantasia, eu me permiti entrar e dialogar com ela em um idioma próprio.
   O que posso dizer é que esta emoção asustada diante da cena não voltou a se repetir.
   Foi de extrema importância para mim vivenciar esta experiência, pois me ajudou a entender um pouco mais como podemos ajudar as crianças pequenas que se encontram em processo terapêutico.
   Somos constantemente convidados a adentrar seu mundo imaginário e precisamos aceitar o convite, pois esta pode ser uma forma privilegiada de sanar suas feridas e evitar futuros sofrimentos.
 
                                                          
 

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