segunda-feira, 22 de agosto de 2011

PROJEÇÃO, E UM POUCO DE MELANIE KLEIN







Por Vanessa Coutinho

   Para Melanie Klein, o primeiro objeto externo de intenso amor e de intenso ódio, para o bebê, é sua mãe. A mãe a princípio é vista como um seio bom, quando alimenta, sacia e propicia agradáveis sensações sensoriais, ou como um seio mau, quando frustra. Posteriormente será vista como um ser integral, positivo ou negativo, não mais apenas um seio bom ou mau. E, desta forma, o objeto que desperta tanto amor, desperta também muito ódio, e consequentes fantasias agressivas-destrutivas na criança; fantasias que enchem-na de culpa, por ter odiado um objeto amado. Esta culpa produz sensações muito incômodas, e levará o indivíduo a tentar repará-la a partir de suas futuras relações, pelo resto de sua vida.
   Obviamente, muitas das vezes em que o bebê percebe sua mãe como um seio mau, ou uma pessoa má, a mãe não o está maltratando realmente; ele a está percebendo desta forma graças a agressividade original que temos dentro de nós. Aí está ocorrendo o mecanismo da projeção. É mais confortável percebermos a agressividade como vinda de fora e não de dentro de nós mesmos. A partir da projeção da agressividade, nos desfazemos dela, depositando-a em um objeto exterior, que passa a ser visto como ameaçador, o que aumenta ainda mais a possibilidade de descarregarmos sobre ele o resto de nossa agressividade.
   Mas não é apenas a mãe que ocupa este lugar de ambivalência. O pai, os irmãos e demais componentes da trama familiar primária também produzem, nesta criança, sensações semelhantes, de amor, ódio, inveja, ciúmes e rivalidade que não se resolvem, apenas se dissolvem, e serão levadas pelo resto da vida, fazendo com que as pessoas busquem reparar sua culpa por ter odiado pessoas amadas, e esta reparação se dará pelas teias de relações futuras com amigos, amores, professores, filhos e até consigo mesmas.
   De acordo com Melanie Klein, todas as relações às quais nos entregaremos no decorrer da vida estarão marcadas por estas relações primitivas, no sentido de tentarmos reparar o mal que acreditamos ter feito através das fantasias destrutivas. Assim, ao escolher uma parceira, por exemplo, um homem pode acreditar que ela nada tem a ver com sua mãe, mas talvez haja alguma significativa sutileza, como o modo de olhar. Ou talvez realmente não haja nada, e ela seja uma pessoa com características exatamente opostas, o que continua sendo fortemente influenciado pela figura da mãe.
   São importantes para esta reparação não apenas figuras que possamos amar, para nos assegurarmos que o amor de fato existe (e, por extensão, pais que nos amem), mas também figuras que possamos odiar e desprezar, sem a culpa que experimentamos quando estes sentimentos eram focados nas figuras  de referência. É mais aceitável odiarmos pessoas que, em nossa opinião, realmente merecem nosso ódio, e podem ser mantidas em segurança bem distantes de nosso círculo afetivo!



2 comentários:

  1. Aos amigos e amigas blogueiros(as) que estejam pelo Rio de Janeiro no dia:

    No próximo dia 17 de setembro, vou lançar meu quarto livro, o ensaio "O Poeta, o Canibal e o Espelho". O evento começa às 18 horas e vai até às 21, no Espaço Cultural da editora Multifoco, que fica na rua Mem de Sá, 126, na Lapa. Espero todos lá.

    Abraços e beijos

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  2. Marcelo
    Tenho certeza de que vai ser um sucesso! Parabéns!

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