domingo, 16 de outubro de 2011

A MADRASTA DA BRANCA DE NEVE

Por Vanessa Coutinho

   Todos os que simpatizam com as ideias de Jung, cedo aprendem a compreender a importância dos mitos e contos de fadas, histórias atemporais, passadas através das gerações e compostas por uma série de mitologemas, ou partes simbólicas que as constituem.
   Há uma história, amplamente conhecida, inclusive por ter sido filmada como um desenho da Disney, tornando-se um clássico, que é "Branca de Neve". Esse conto possui vários mitologemas, mas eu vou tratar de um em especial: a relação da madrasta com sua enteada.
   Branca de Neve é uma princesa órfã, que tem por madrasta uma feiticeira de grande beleza, dona de um espelho mágico que diz a ela se existe alguma mulher mais bela do que ela mesma. A resposta é sempre "não", o que significa que a mais bela é a madrasta.
   Ela nunca se ocupa de Branca de Neve, a menina não está entre seus interesses, por isso a pequena cresce e se desenvolve relativamente bem, tornando-se uma jovem de atributos físicos capazes de competir com os da madrasta. Aí tudo muda: no dia em que o espelho revela à feiticeira que sua enteada era mais bela, o mundo desaba, e começa um processo implacável de perseguição, que tem por objetivo a morte da princesa.
   Não há dúvida de que a rainha representa um aspecto do arquétipo materno. Seu lado devorador, perverso, a Mãe Má. Quantas vezes percebemos ser difícil para algumas pessoas verem seus "filhos" (filhos mesmo, ou subalternos, alunos, enfim, pessoas que "crescem" real ou simbolicamente diante de seus olhos, ou sob sua supervisão) tornando-se fortes ou belos ou inteligentes ou independentes o suficiente para ameaçarem o estado de coisas com que estão acostumados? Como parece ser difícil para certas pessoas perceberem que seus "filhos" foram além de onde eles mesmos pararam. Então, a saída para alguns é "matar", ou seja, tentar desqualificar, desencorajar, diminuir, enfim, qualquer medida que enfraqueça aquele que busca sua autonomia, seu lugar de adulto.
   A Rainha nos fala do quanto é difícil estar no lugar do antigo que precisa ceder espaço para o novo, e o quanto, por vezes, nos agarramos a posições que julgamos serem tão importantes que levam a querer possuir como troféu o coração de quem ousa viver a vida de uma forma que não foi a que para ele planejamos...



2 comentários:

  1. Pois é.. E esse é um ótimo toque sobre a tendência que temos dentro da gente de parar em uma coisa só. É preciso sempre se desconstruir, carregando junto o peso das experiências anteriores. O novo e o antigo andam juntos, porque, como diz sabiamente o Millôr, "não há vanguarda sem retaguarda"..

    Você que trabalha com o Jung, certamente iria gostar muito da 'Poética do Devaneio' do Bachelard. Uma boa vanguarda com retaguarda.

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. um pouco pesado ne? inveja do filho o.O mas legal.. bem interessante

    ResponderExcluir