domingo, 18 de setembro de 2011

CORPOS

Por Vanessa Coutinho

   Dia desses, durante um atendimento, ouvi uma mulher falar a respeito de como seu corpo havia mudado após o nascimento de seu filho. Subitamente me dei conta, eu, mãe de duas filhas, da dor e da delícia daquela verdade. Para a maioria das mulheres, as mudanças no corpo (não só no corpo, é claro...) decorrentes de uma ou mais gestações são irreversíveis. Passei a me perguntar em que momento isso se tornou um fardo...
   É tão natural que as marcas da gravidez permaneçam no corpo, e que uma mulher que seja mãe tenha formas diferenciadas de outra, que não tenha vivido aquela transformação... Mas, de alguma forma, não parece ser! Vivemos cercadas por fotos de celebridades que, semanas após o parto, aparecem de biquini, medidas idênticas às anteriores, e isso as torna exemplos a serem seguidos, uma meta a ser alcançada.
   A ditadura do corpo perfeito é uma ficção que nossa sociedade criou e agora vive tentando, desesperadamente, legitimar. Acreditamos que é isso que é o certo, o bom, a norma. Atrevo-me a duvidar disso. Duvidar de que os corpos tenham que voltar à sua antiga forma em menos de um mês, para que mães de bebês possam exibir suas barrigas retas como de adolescentes enquanto amamentam seus recém-nascidos.
   A sociedade da super-visão, em que todos os olhos estão em toda parte, ridiculariza atrizes e cantoras que ousam exibir sua celulite na praia. Mas, espera aí! As atrizes ganham para atuar, as cantoras para cantar. Em que contrato assinaram que deveriam se manter escondidas caso estivessem acima do peso? Estranho mundo este...
   Não defendo a idéia de que é bom deixar-se enfeiar, tornar-se descuidada. Mas sim a de que é possível celebrar o novo, o corpo que a maternidade nos dá, e sentir-se estimulada e fortalecida por isso. Quem passa pela experiência de ter filhos e não mudar o corpo são os homens, é parte da natureza deles. Pensemos nisso, ao menos como reflexão, pode valer a pena experimentar...



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