domingo, 2 de setembro de 2012

Psicologia e Cinema

Por Vanessa Coutinho

   "A Dançarina e o Ladrão", ("El baile de la Victória" - Fernando Trueba, 2009), é um filme muito interessante. Gostaria de fazer algumas pontuações a seu respeito. Em primeiro lugar, me parece que o título em português perde de dez a zero para o original. Se tivesse sido simplesmente traduzido, teríamos algo como "A Dança da Victória", muito mais coerente e fiel ao que se vê. Mas, isso é um detalhe...
   O filme tem seu centro no encontro de três personagens: Nicolás Vergara Grey (Ricardo Darín), Angel Santiago (Abel Ayala) e Victória (Miranda Loyola), por sinal, três atuações brilhantes.
   Vergara Grey é um famoso arrombador de cofres que sai da prisão beneficiado pela anistia no Chile, e, ao sair, descobre que seu cúmplice, a quem protegeu com o silêncio, não soube aplicar o dinheiro dos assaltos, e agora não há mais o que dividir. Descobre também que sua esposa Teresa (Ariadna Gil), por quem se manteve fielmente apaixonado, reconstruiu a vida ao lado de outro homem. Ou seja, sua saída leva a um encontro com o vazio de todos os seus projetos. 
   Angel Santiago, também anistiado, é um jovem que foi detido por ter saído para um passeio com um cavalo que não lhe pertencia. Por esse delito tão pueril, passa alguns anos na cadeia e sofre abuso sexual, o que, naturalmente, gera situações que marcarão profundamente seu destino. Angel conhece Victória, a dançarina do título, nas proximidades de um cinema pornô. Ela é uma órfã do regime Pinochet, que presenciou o assassinato de seus pais e, por causa disso, ficou fortemente traumatizada, tornando-se, inclusive, incapaz de falar, e encontrando na dança seu principal meio de expressão. 
   Embora esse trio seja o pilar de sustentação do filme, temos os outros personagens, com participações menores, mas, nem por isso, menos impactantes. Esse é um dos pontos fortes: mesmo os personagens secundários são bem construídos e interpretados. A professora de dança (Marcia Haydée), que leciona para as meninas pobres e acolhia como aluna a pequena Victória quando ela fugia do abrigo todas as tardes para assistir suas aulas, é um exemplo.
   Parece, em uma leitura mais superficial, que o filme fala a respeito do assalto que Angel planeja realizar ao lado de Vergara Grey, de uma fortuna escondida em um gabinete, por trás de uma enorme foto de Pinochet. Mas o simbolismo e os aspectos psicológicos são, a meu ver, o grande trunfo da obra.
   Há cenas belíssimas no filme, como as sequências em que Angel se locomove pela capital chilena a cavalo, pelo meio dos carros e pessoas. É poético, e absolutamente cativante.
   Poético, aliás, é um termo que define bem o filme de Trueba. E poesia não se explica. Por isso, recomendo que assistam. E só.