quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Psicologia e Cinema

Por Vanessa Coutinho

   No filme "Um Conto Chinês" ( Sebastián Borensztein - 2011), o argentino Roberto (Ricardo Darín) vive só, cercado por suas excentricidades , por exemplo: pesquisar e colecionar notícias absurdas. Jun (Ignacio Huang) é um chinês que, justamente por ter vivenciado uma das notícias absurdas da coleção de Roberto, sai de seu país e chega a Buenos Aires em busca de um parente.
   Roberto não fala chinês. Jun não fala espanhol. Como se dá o encontro entre dois homens, aparentemente tão diferentes? Como encontros podem produzir mudanças, pequenas ou grandes, que alteram o olhar das pessoas diante da vida?
   Atenção para a cena em que, sem querer, Jun quebra a cristaleira em que Roberto guarda os bibelôs com os quais presenteia a mãe morta. Tem certa semelhança simbólica com a cena do filme "Chocolate" (Lasse Hallstron - 2001), em que a urna com as cinzas da mãe de Vianne Rocher (Juliette Binoche) também é quebrada. Por vezes nos libertamos de nossos fantasmas por iniciativa própria. Em outras, é preciso que nos atirem para fora das grades aos empurrões...
   Por essa cena e por outras, vale a pena ver.
 


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Minha secretária está lá em cima...

Por Vanessa Coutinho

   Em certa ocasião eu fiz análise com um terapeuta que usava a seguinte frase: "Minha secretária fica lá em cima". Eu entendia perfeitamente que o que ele queria dizer era que o mundo espiritual, o Divino, o Sagrado, o mágico, enfim, cuidavam para que o seu dia de trabalho transcorresse da melhor forma. Segundo ele, se por acaso ia trabalhar sentindo-se mal, era certo que alguns analisandos ligavam para desmarcar, ou faltavam, dando a ele a oportunidade necessária para se recuperar. 
   Lembrei dessa história porque esta semana veio me procurar uma mulher para propor determinada sociedade. Ela havia sido indicada por alguém que faz terapia comigo, e também já ouvira falar sobre meu trabalho de arteterapia com crianças por uma amiga dela, que pensava em trazer o filho para ser atendido por mim.
   Pois bem, essa mulher chegou atrasadíssima. Apesar disso, esforcei-me para ser acolhedora e recebê-la bem, e mesmo sabendo que atrapalharia todos os outros horários, não quis desmarcar nosso encontro. Ela falou sem parar por mais de uma hora, cheia de todas as certezas do mundo, não só referentes à profissão dela como também (e principalmente) à minha.
   Mesmo tendo sido ela a me procurar (e não o contrário), apresentou-se fortemente opositora diante das poucas palavras que me deixou pronunciar, e mostrou-se preocupada em saber minha religião, resposta que não dei, embora pudesse até ter dado, mas julguei que "...esse papo teu tá qualquer coisa, você já tá prá lá de Marrakeshi...".
   Questionou se eu era mística, ou esotérica, porque, segundo ela e seu saber total, os junguianos são místicos e esotéricos. Além disso, possuo alguns enfeites com características orientais em meu consultório (um espelho com moldura de elefantes, por exemplo).
   Mal sabe ela que, por ironia, temos a mesma religião (ela, é claro, encheu a boca para falar de sua fé). Quando vi em seus olhos brilharem pequenas fogueiras da Inquisição, voltadas para a bruxa (eu) sentada à sua frente, compreendi que o projeto não rolaria.




   A princípio fiquei frustrada, pois seria algo ligado à minha pesquisa de arteterapia com crianças. Depois, li no facebook o post de um amigo, com uma frase do Caio Fernando Abreu, que dizia: "Se alguém se afastou de você, foi porque Deus atendeu a seu pedido de livrar-te do mal".
   E, de repente, tudo fez enorme sentido. Amém.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Eu li...

... no Jornal O Dia de hoje, na coluna do Fernando Molica:
"Ao fim de cada Olimpíada, após a contagem de nossas poucas medalhas, ouvimos os mesmos lamentos e promessas. Agora, o coro é maior, relacionado ao aumento de investimentos públicos nos esportes e ao fato de que os Jogos de 2016 serão no Rio.(...)
   De um modo geral, países cujos atletas conquistam mais medalhas são aqueles que proporcionam melhor qualidade de vida aos seus cidadãos. (...) têm como base uma estrutura pública de acesso à educação e ao esporte. A formação de campeões é consequência do bem-estar da população. (...)
   No Brasil, aplicações pesadas no esporte seguem a lógiaca de dar muito dinheiro para quem já é rico e de despachar migalhas para os pobres. (...) Isenções fiscais bancam torneios de golfe e pólo, campeonatos de rugby, olimpíada em colégio de elite, jogo de fim de ano de ex-atletas de futebol e até a formação, como piloto, nos Estados Unidos, de um neto do Emerson Fittipaldi. (...) Como diriam os Titãs, a gente não quer só medalha."
   E, como diria Cazuza: Brasil, mostra a tua cara!

Orgulho de ser educadora

Por Vanessa Coutinho

   O Ciep Glauber Rocha, na Pavuna, região ainda sob o domínio do tráfico de entorpecentes, cercada de carências sociais e violência, obteve média 8,5 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Ficou em primeiro lugar, à frente das outras 1749 escolas públicas do Rio de Janeiro.
   Em uma comparação nacional, apenas duas escolas (uma em Itaú de Minas e outra em Foz do Iguaçu) ficaram à frente do Ciep, ambas com 8,6.
   Parabéns aos alunos e educadores do Ciep Glauber Rocha, que mostraram que é possível privilegiar a Educação de qualidade e fazer muito com muito pouco...



terça-feira, 14 de agosto de 2012

Xangô e os camundongos

Extraído do livro "Erinlé, o caçador e outros contos africanos" de Adilson Martins (texto) e Luciana Justiniani Hees (ilustrações) - Ed. Pallas

   Xangô, rei dos iorubás, foi capturado por seus inimigos, que o prenderam em um casebre sem nenhuma abertura, para que ali morresse de fome e sede.
   Sentado no chão, o rei observou a presença de um camundongo e pensou:
   - Pegando este animal, poderei comê-lo e, dessa maneira, adiar a minha morte.
   Com um movimento rápido, conseguiu pegar o animalzinho com suas mãos.
   O rei já se preparava para matar o pequenino, quando refletiu:
   - Para que sacrificar este bichinho inocente se, de qualquer forma, mais cedo ou mais tarde, vou morrer de fome?
   E assim pensando, libertou o assustado camundongo que, correndo, desapareceu em um pequeno buraco no canto da parede.
   Momentos depois, o rato estava de volta e, para surpresa do rei, falou as seguintes palavras:
   - Nobre rei de bondoso coração! Meu nome é Larinká e eu lhe presto homenagem por sua bondade e por seu bom caráter! Por ter poupado minha vida, eu, um pobre rato, vou ajudar a conservar a sua!
   Mal acabara de falar essas palavras e, pelo mesmo buraco, começaram a entrar muitos camundongos, cada um trazendo na boca uma pequena fruta, um pedaço de pão, um grão ou qualquer coisa que servisse para matar a fome do prisioneiro.
   A cena se repetiu durante muitos dias. Muitos alimentos e pedaços de algodão encharcados em água, trazidos pelos ratos, mantiveram vivo o bondoso rei.
   Depois de muitos dias, certos de que o prisioneiro já estava morto de fome e sede, seus inimigos abriram a porta. Qual não foi o seu espanto ao encontrarem Xangô vivo e forte, descansando no chão de terra batida.
   - Este homem possui uma grande magia - disse o chefe deles. - Como alguém pode sobreviver tanto tempo sem água e comida?
   - Não podemos matar um homem que tem tantos poderes! - disse um outro.
   - Devemos soltá-lo imediatamente, antes que use seus poderes contra nós... - disse um terceiro.
   Imediatamente abriram por completo a porta, para que o rei saísse em liberdade, e ofereceram-lhe uma canoa para que pudesse seguir rumo ao seu país, que ficava rio abaixo.
   Foi assim que Xangô, rei de Oió, ficou em débito com Larinká, o pequeno camundongo.


                                                  

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Jorge Amado...

...hoje completaria 100 anos. Lembro perfeitamente de que, quando ele morreu, senti como se tivesse perdido um amigo. Este sentimento vinha de minha intimidade com seus livros, alguns dos quais li, reli e reli, como "Capitães da Areia", "Tenda dos Milagres", "Mar Morto" e tantos outros.
É impressionante como nossa obra nos transporta para muito além de onde nós mesmos chegamos a ir.
Salve Jorge!

Direto do Facebook ("Mundo Arquetípico")

Simples e bonitinho...