Uma vez fui com
Luíz Horácio, pai da minha filha Luísa, a uma festa de fim de ano na casa do
jornalista e escritor Fausto Wolff.
Já teria sido um dia memorável pelo nada simples fato de estar no mesmo
evento que Aldir Blanc, por quem nutro grande admiração. Mas lembro de um
diálogo que tive com Fausto, e que até hoje costuma me vir à mente. Ele
perguntou:
- Quer cerveja?
- Não, obrigada.
- Vodca?
-Não.
-Vinho, whisky,
champagne? O que você bebe?
- Obrigada, eu não
bebo...
Ele olhou para mim
muito sério, para depois questionar, com sua voz inconfundível:
- É cocaína que
você usa?
- Não. Não uso
cocaína.
- Como você consegue viver de cara limpa?
Tive vontade de responder que minha cara não era tão limpa, porque de
vez em quando eu mandava um tarja preta sublingual (fraquinho, é verdade...)
mas, de qualquer forma, refleti sobre o que ele dissera. Vivemos em uma época
em que não podemos estar tristes, ansiosos, angustiados, assustados, que vem
logo um diagnóstico de saúde mental para nos carimbar. Não podemos estar sem
vontade de fazer sexo, com muita vontade de comer chocolate e não sair da cama,
nem fazer o sinal da cruz ao entrar num avião.
Temos que ser lindos, jovens, sensuais e radiantes. Destemidos,
descolados, ricos e bronzeados (não exageradamente, por causa do câncer de
pele). Não comer carboidratos, nem gordura, malhar, ser bons profissionais
(famosos de preferência), filhos exemplares e excelentes pais. O problema é que
não dá para ser isso tudo e ser humano ao mesmo tempo. Aí, só com cerveja,
vinho e vodca. Ou um tarjinha preta,
usado com moderação...