terça-feira, 30 de agosto de 2011

JAMES HOLLIS

"E quantos relacionamentos são governados pelo princípio do amor, pela atenção à alteridade do outro? Quantos são sabotados pela reativação dos antigos imagos do "eu mesmo" e do outro? Quantos são debilitados pelo não engrandecimento e apoio mútuo de suas jornadas separadas, pela força do hábito, pelo medo da mudança, pela falta de permissão para se viver a própria jornada e pela recusa em aceitar as convocações para suas próprias responsabilidades?
(...)
O amor quer a independênmcia de ambos os lados, liberdade, não controle, não culpa, não coerção, não manipulação. Dependência não é amor; é dependência - uma revogação da responsabilidade essencial em crescer, ter plena responsabilidade por nossas vidas."

Do livro "A Sombra Interior - por que pessoas boas fazem coisas ruins?" - Ed. Novo Século



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

PROJEÇÃO, E UM POUCO DE MELANIE KLEIN







Por Vanessa Coutinho

   Para Melanie Klein, o primeiro objeto externo de intenso amor e de intenso ódio, para o bebê, é sua mãe. A mãe a princípio é vista como um seio bom, quando alimenta, sacia e propicia agradáveis sensações sensoriais, ou como um seio mau, quando frustra. Posteriormente será vista como um ser integral, positivo ou negativo, não mais apenas um seio bom ou mau. E, desta forma, o objeto que desperta tanto amor, desperta também muito ódio, e consequentes fantasias agressivas-destrutivas na criança; fantasias que enchem-na de culpa, por ter odiado um objeto amado. Esta culpa produz sensações muito incômodas, e levará o indivíduo a tentar repará-la a partir de suas futuras relações, pelo resto de sua vida.
   Obviamente, muitas das vezes em que o bebê percebe sua mãe como um seio mau, ou uma pessoa má, a mãe não o está maltratando realmente; ele a está percebendo desta forma graças a agressividade original que temos dentro de nós. Aí está ocorrendo o mecanismo da projeção. É mais confortável percebermos a agressividade como vinda de fora e não de dentro de nós mesmos. A partir da projeção da agressividade, nos desfazemos dela, depositando-a em um objeto exterior, que passa a ser visto como ameaçador, o que aumenta ainda mais a possibilidade de descarregarmos sobre ele o resto de nossa agressividade.
   Mas não é apenas a mãe que ocupa este lugar de ambivalência. O pai, os irmãos e demais componentes da trama familiar primária também produzem, nesta criança, sensações semelhantes, de amor, ódio, inveja, ciúmes e rivalidade que não se resolvem, apenas se dissolvem, e serão levadas pelo resto da vida, fazendo com que as pessoas busquem reparar sua culpa por ter odiado pessoas amadas, e esta reparação se dará pelas teias de relações futuras com amigos, amores, professores, filhos e até consigo mesmas.
   De acordo com Melanie Klein, todas as relações às quais nos entregaremos no decorrer da vida estarão marcadas por estas relações primitivas, no sentido de tentarmos reparar o mal que acreditamos ter feito através das fantasias destrutivas. Assim, ao escolher uma parceira, por exemplo, um homem pode acreditar que ela nada tem a ver com sua mãe, mas talvez haja alguma significativa sutileza, como o modo de olhar. Ou talvez realmente não haja nada, e ela seja uma pessoa com características exatamente opostas, o que continua sendo fortemente influenciado pela figura da mãe.
   São importantes para esta reparação não apenas figuras que possamos amar, para nos assegurarmos que o amor de fato existe (e, por extensão, pais que nos amem), mas também figuras que possamos odiar e desprezar, sem a culpa que experimentamos quando estes sentimentos eram focados nas figuras  de referência. É mais aceitável odiarmos pessoas que, em nossa opinião, realmente merecem nosso ódio, e podem ser mantidas em segurança bem distantes de nosso círculo afetivo!



PARA ALEXANDRE ARARIPE, RITA GREGO E DANIEL ANSOR

DESEJOS

Carlos Drummond de Andrade

Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme de Carlitos
Chope com os amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra NÃO, nem NUNCA, nem JAMAIS, nem ADEUS
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Por do sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

ESPAÇO DO POETA

Lúcia, como eu disse, este poema veio parar no blog.
Bj.


                                        

       

Nem sempre
(Antonio Roberto Fernandes)

Nem sempre o meio é no centro
Nem o lado na beirada
E a dor que sinto por dentro
Pode ser até por nada
Nem sempre aquilo que é lindo
Merece maior valor
Quem anda sempre sorrindo
Pode esconder uma dor.

Nem sempre ganha a corrida
O corredor que é mais forte
Nem toda existência é vida
Nem falta de vida é morte
Quem sempre chora e reclama
Nem sempre é mais infeliz
Nem sempre quem diz que ama
Sabe a força do que diz.

Quem fala que sabe tudo
Muitas vezes sabe nada
Nem sempre o bom conteúdo
Tem capa mais enfeitada
Há quem seja mais sozinho
No meio da multidão
Pode um grito ser carinho
E um beijo ser traição.

Nem toda estrada é passagem
Nem todo verso é poesia
Nem sempre toda paisagem
É como fotografia
Quem canta nem sempre espanta
O mal que a vida nos faz
Quanto mais minha alma canta
Cada dia sofre mais.

Nem todo que odeia fere
Nem quem ama vive ao lado
Nem sempre quem mais confere
Percebe que há algo errado
Nem tudo que queima é fogo
Nem sempre a morte é o pior
Nem sempre quem ganha o jogo
Pareceu jogar melhor.

Nem todo vento refresca
Nem toda luz tem calor
Nem sempre aquele que pesca
Tem jeito de pescador
Nem sempre o meio é no centro
Nem o lado na beirada
E a dor que sinto por dentro
Pode ser até...por nada!"

                                                          

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

FRASES

"Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas..."

Luís Fernando Veríssimo

                                                    

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

EMYGDIO DE BARROS

                                                                       

FRASES

''Não se pode mais nem matar a saudade de um filho..."

Frase dita por homem que teve parte da orelha decepada por homofóbicos, após agressão física sofrida quando ele e seu filho, que se abraçavam, foram confundidos com homossexuais...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A FERIDA DE QUÍRON

Por Vanessa Coutinho


          Ana Clara (nome fictício) procurou-me a primeira vez, e tinha muito a dizer.  Como quase todos os que procuram o processo terapêutico, falou, falou, falou, e eu percebia que algo ainda havia por falar. Marcamos o segundo encontro e ela não compareceu. Entrei em contato e soube, por sua mãe, que ela havia se submetido a uma cirurgia para extirpar um tumor. Isso não havia sido dito, mas, de alguma forma, estava posto, desde o primeiro contato, como o segredo não revelado.
          Mantive-me aguardando e, durante mais ou menos dois anos, Ana Clara de vez em quando me ligava. Marcava uma consulta e não ia. Ou chegava tão cedo que nem eu mesma ainda havia chegado, então acabava indo embora. Ou tão atrasada que inviabilizava o atendimento. Às vezes deixava bilhetes por baixo da porta. E sumia por meses. Um dia ligava novamente. Marcava outra consulta, consulta que ela sabia precisar, mas não sabia se suportaria.
          Em uma dessas vezes senti raiva. Marquei um horário em que normalmente, não estaria no consultório. Ao chegar lá, descobri pelo porteiro do prédio que  “uma senhora que havia vindo me procurar não quisera esperar e fora embora”. Jurei nunca mais marcar nenhum horário para Ana Clara. Vivi toda raiva e frustração. Quinze dias depois, ela ligou. E eu marquei a sessão. Era um horário difícil, e eu acreditei que talvez não conseguisse chegar. Um colega chegou a comentar que, se não pudesse ir, não fosse, desmarcasse. Mas eu não faria isso. Mesmo que ela não estivesse lá, eu estaria, eu precisava estar. Quando estava a caminho, recebi um telefonema. Reconheci o número, e imaginei que Ana Clara me diria que não poderia comparecer. Surpresa, a ouvi do outro lado avisando que também estava a caminho. Quando cheguei, ela já estava a minha espera. Ao sair do consultório sabia que não havíamos começado ali.  Esses dois anos de (des)encontros que ambas fomos capazes de suportar, construir e ressignificar, foram fundamentais, e fazem parte do processo terapêutico que construímos.
          É um pouco sobre isso que fala este texto: da ferida de Quíron, que me fez capaz de, a partir da minha dor, entender a dor do outro, e me capacitou a, pelo menos, desejar ser terapeuta.